O niilismo relacional em Dostoiévski
LARA PASSINI VAZ-TOSTES
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RESUMO
Este artigo propõe uma leitura comparativa entre dois personagens de Dostoiévski: o homem do subsolo, de Memórias do Subsolo, e Arkádi Dolgorúki, de O Adolescente, a partir da categoria do niilismo. Ambos recusam vínculos, escuta e sentido — mas por caminhos diferentes. O primeiro representa o niilismo da interioridade: um recuo irônico e ressentido, que rejeita a ordem do mundo por medo e autodefesa. O segundo encarna o niilismo da projeção: um impulso de afirmação sem ética, movido por delírio de grandeza e recusa da partilha. Articula-se Dostoiévski com Nietzsche, Mauss, Ricoeur, Taylor e Byung-Chul Han, propondo que o vazio de ambos é uma crítica à modernidade que exige valor sem reciprocidade.
Palavras-chave: niilismo; Dostoiévski; subjetividade; gesto; escuta.